O regresso às creches. Esperámos dois meses por isto.
Esperámos dois meses por isto.
Talvez ela mais do que eu. Ela que chamou pela educadora cada um dos dias que completaram estes dois meses. Ela que a cada colher de sopa dizia o nome dos amiguinhos da sala. Ela que pedia para ver, rever fotografias e vídeos do tempo que passaram juntos.
Sempre ponderamos o regresso dela. Porque vimos que ela precisava de voltar. Não por causa das regras, do desenvolvimento, dos estímulos ou das rotinas. Mas por causa dos afetos e das relações que construiu com aqueles que são também parte do seu coração.
Ora se o principal – e talvez único fator – pelo qual vale a pena correr riscos é a interação que lá se estabelece; como é possível deixá-la voltar vendo essa mesma interação comprometida?
Como posso eu, mãe de uma criança de 18 meses que começou a correr e a saltar , aceitar que eventualmente se magoe e não receba um carinho?
Como posso eu aceitar que não abrace ou brinque com os amigos?
A creche não é – e sempre defendi isso – para aprender a ler, a escrever, a contar. A creche não é estimular e desenvolver. A creche é conhecer-se a si e aos outros através das relações que estabelece. É reconhecer, partilhar e vivenciar afetos. Porque é, sempre, pelo e com o coração que se aprende.
Concordo que é imperativo estabelecer cuidados redobrados de higiene, mas sinto que é imoral negar colo e afeto às crianças. Como se elas não precisassem disso para se desenvolverem…
O nosso papel enquanto pais? É protegê-los. E a esta altura pode ser incomportável ficar em casa. Então deixe-mo-los voltar. Cumpramos as medidas de higiene ( e não me refiro às máscaras ou aos 2 m entre crianças). Mas não nos esqueçamos que nem todos os riscos residem na creche. Residem nos nossos locais de trabalho, nas casas de amigos, nos shoppings… Portanto. Irresponsabilidade não é deixá-los voltar à creche e partilhar brinquedos.
Irresponsabilidade é depois do horário de saída fazermos a nossa vida como antes. A nossa responsabilidade não termina depois de saírem da escola. A nossa responsabilidade aumenta, depois disso, se tal for possível.
Por aqui, cumpriremos o distanciamento social e as saídas continuarão as estritamente necessárias. Os jantares com amigos serão adiados, assim como os beijinhos e abraços aos nossos familiares. As compras que sempre foram feitas a três, continuarão a ser feitas só pelo pai.
Continuaremos a sacrificar a rotina e a dinâmica familiar como foi outrora. E sim iremos correr o risco de a deixar voltar. Mas que esse risco se resuma ao brincar livre, e à possibilidade de ela continuar a ser criança.
Prometemos amá-la e respeitá-la no dia em que nasceu, e é isso que estamos a fazer!
Texto de Cristele Matias
O meu nome é Vânia Cristele Matias. Sou mãe há poucos meses. 😉
Sou Terapeuta Ocupacional, trabalho a vertente emocional e dou sessões de aconselhamento parental.
A área das emoções e da parentalidade é a minha paixão.