Cuidar de quem cuida

Mesmo com muito amor e dedicação, cuidar de um familiar doente exige um extraordinário esforço físico e emocional. A atividade de cuidar de um doente dependente é de tal forma cansativa e esgotante que, na maioria das vezes, o próprio cuidador também adoece. Esta doença é conhecida como Síndrome do Cuidador, é preciso estar atento aos sintomas…

Os sintomas físicos, facilmente explicados pela imensa sobrecarga de trabalho e falta de descanso a que os cuidadores são sujeitos, são facilmente identificados: dores nas costas, problemas de coluna, dores musculares, dores de cabeças, são apenas alguns exemplos. Os sintomas que podem alertar para uma situação de esgotamento, de desequilíbrio emocional, não são tão facilmente identificados nem verbalizados pelo cuidador. São precisamente esses sinais e sintomas que devem constituir a nossa principal preocupação.

Para além do cansaço físico, fruto da total dedicação e imensidão de tarefas que é necessário levar a cabo diariamente para cuidar de um doente, o cansaço emocional, fruto da privação de sono, do stress, da ausência de atividades pessoais é, provavelmente, o fator mais determinante para que o cuidador adoeça.

Estes são alguns dos sintomas que poderão revelar uma situação de esgotamento de um cuidador:

– Esquecimentos, falta de memória
– Mudanças de humor, irritabilidade
– Ansiedade
– Cansaço, exaustão
– Perspetiva da vida e linguagem muito negativistas
– Obsessão com as rotinas e cuidados ao doente
– Dificuldade em tomar decisões
– Depressão

Estes são apenas alguns sintomas, talvez os mais evidentes, mas cada situação deve ser analisada particularmente. Cada casa tem as suas próprias dinâmicas, os doentes não têm as mesmas patologias e os cuidadores também não são todos iguais. Termos consciência do que significa ser cuidador e das exigências que tal atividade acarreta é o primeiro passo para evitar que os familiares cuidadores também adoeçam.

Importante não esquecer duas coisas:
Primeira, o sono é regenerador, é através do sono que fazemos a nossa gestão emocional, que repomos os mecanismos que equilibram o nosso organismo. Quando não dormimos encontramo-nos mais debilitados, fragilizados, expostos, não temos defesas, mecanismos de resposta (físicos e emocionais) para as exigentes situações com que a vida nos confronta.

Segunda, é importante que o cuidador mantenha um mínimo de atividades de seu interesse pessoal, é necessário entender o contributo que estas atividades (lúdicas, pedagógicas, desportivas, religiosas, etc…) poderão ter na estabilidade emocional de quem cuida. O cuidador terá que ter tempo para si para poder ter disponibilidade emocional para cuidar de outros.

Não podemos cuidar de alguém quando nós próprios também estamos doentes…

 

Artigo de Ana Raquel Veloso, diretora da Nós e a Família. Pode consultar o artigo original AQUI.

 

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