Finanças familiares – Primeiro Artigo – Ricardo Frade
Estávamos em 2006 quando deixei o ensino e iniciei a minha viagem no mundo da consultoria financeira. Vivi por dentro a euforia do primeiro semestre de 2007 e do segundo de 2009, ambos muitíssimo bons para os mercados accionistas, mas também a crise do subprime e europeia, de proporções devastadoras para muitos. Neste período o mundo mudou e reinventou-se, mas continuamos a viver num clima de grande dúvida e incerteza. Muitos perguntam “porque raio mudaste do ensino (difícil, sim) para a área financeira, onde ninguém quer ser teu/tua cliente?”. A resposta é simples: ao contrário do que parece, na área financeira as pessoas precisam (e buscam) quem as ajude, de forma séria, a responder à pergunta-chave: “como posso proteger e maximizar o meu dinheiro?”. Trabalhar com essas pessoas, que querem o meu apoio, realiza-me enquanto pessoa, e foi por isso que aceitei o convite da Plataforma Família para escrever esta coluna sobre finanças (e outras coisas mais ou menos interligadas).
Para começarmos esta viagem precisamos, antes de mais, de falar a mesma linguagem! Activos, passivos, acções, obrigações, depósitos, juros, são tudo expressões que usamos neste mundo e que nem sempre são claros para todos. Então comecemos pela base: o que é o “Valor Líquido”?
O Valor Líquido é o indicador central para avaliar a nossa saúde financeira: quanto vale a nossa vida, juntando tudo o que temos e descontando o que devemos? Créditos e dívidas de um lado, dinheiro que temos no outro, simplesmente! O resultado desta operação é o nosso “Valor Líquido”, o que a nossa vida financeira vale. Muitos terão valor líquido positivo, alguns elevado (óptimo!), mas muito têm um valor líquido negativo (devem mais do que têm), e isso é preocupante: devemos trabalhar para que o nosso valor líquido aumente até termos menos dívidas que activos (dinheiro e bens).
A seguir acrescentemos outras três noções básicas, que nos vão ajudar ao longo do tempo a perceber como conseguir um bom valor líquido: activos, passivos e liquidez.
Os ativos são os bens ou investimentos que nos trazem retorno: pode ser uma aplicação financeira que gera juros periodicamente; pode ser a casa onde vivemos já sem hipoteca (se não fosse nossa teríamos que gastar dinheiro a alugar); pode ser uma empresa que temos, que nos gera ordenado e outros ganhos.
Já os passivos são o que nos faz perder dinheiro: serviço de internet portátil que ninguém usa mas que pagamos mensalmente; o carro, que desvaloriza e consome recursos financeiro em revisões, impostos e pneus; o cartão de crédito que pagamos às prestações com juros elevadíssimos
Por fim, a liquidez: é o “dinheiro que temos no bolso”, e é um activo! É o dinheiro que temos em casa, à ordem ou em investimentos que podemos resgatar rapidamente e sem perdas, em caso de emergência.
A forma como organizamos e gerimos os nossos ativos, passivos e liquidez influencia decisivamente o nosso Valor Líquido. Devemos aumentar os ativos, poupando e investindo todos os meses, ao mesmo tempo que baixamos os passivos, abatendo os créditos e diminuindo desperdícios nas contas familiares, por exemplo. Mas acima de tudo devemos manter sempre suficiente dinheiro “vivo” para a vida quotidiana e emergências!
Nos próximos artigos iremos entender melhor como é que isto de se articula, na prática.
Entretanto envie as suas dúvidas financeiras para consultorfinanceiro.rf@gmail.com.
Artigo de Ricardo Frade
Consultor Financeiro, Autor do livro Pé Descalço, Orador e Personal Advisor.