Parentalidade Positiva! Porquê? – O que é isso?
Grande parte da literatura tem vindo a categorizar ou tipificar os diferentes estilos parentais, procurando avaliar o impacto das práticas parentais em diversas dimensões da vida das crianças.
A educação autoritária, caracteriza-se pela imposição da obediência e do respeito pela autoridade. Os pais autoritários são exigentes, pouco tolerantes e pouco compreensivos, dando origem a filhos submissos de aparente conformismo. Estas práticas podem provocar emoções intensas, como hostilidade, medo e ansiedade, revolta interferindo na capacidade de a criança ajustar o seu comportamento às situações com que é confrontada. As necessidades da criança não são tidas em conta.
A educação permissiva é o oposto da anterior. Muitos pais, não se revendo no modelo autoritário de educação acabam por cair no modelo da permissividade, que promove ainda mais a insegurança da criança, já que todos precisamos de regras, limites e rotinas. Os pais permissivos são compreensivos, tolerantes e afectuosos. Utilizam pouco a punição e evitam sempre que possível o exercício da autoridade ou a imposição de regras e restrições. No entanto, não conseguem estabelecer limites, permitindo comportamentos desadequados causadores de problemas. Evitando a todo o custo a punição, acabam por ser vistos por estas como um recurso para a obtenção dos seus desejos e não como um modelo, nem como uma figura de referência, responsável por guiar e orientar o seu comportamento.
A educação negligente, ao contrário do que acontecia há uns anos, e tal como refere Magda Dias, no livro “Crianças Felizes”, já não é um apanágio de uma classe social com dificuldades económicas ou baixa literacia. É hoje transversal a todas as classes, encontrar adultos, que embora sejam pais, não assumiram a 100% o papel de educadores. Pais negligentes não são nem afectuosos, nem exigentes, nem compreensivos. Tendem a manter os seus filhos à distância, respondendo somente às suas necessidades básicas. Não conseguem organizar-se de modo a fornecerem cuidados e apoio continuados aos seus filhos. Ora estão, ora não estão. Demonstram pouco envolvimento, no dia-a-dia e na socialização da criança, não supervisionando o seu comportamento, pois estão apenas centrados em si próprios.
A educação Democrática, tem vindo a ser defendida como a mais equilibrada, pois traduz-se num ambiente familiar com poucas tensões, traduzindo-se em pessoas mais relaxadas, mais aptas a lidar com problemas (de forma optimista) e a sobreviver socialmente.
Parece também o estilo educativo que mais vai de encontro aos direitos da criança, uma vez que parece salvaguardar o nº2 do artigo 1878º do CCiv, segundo o qual “os filhos devem obediência aos pais; estes, porém, de acordo com a maturidade dos filhos, devem ter em conta a sua opinião nos assuntos familiares importantes e reconhecer-lhes autonomia na organização da própria vida.”
Nos últimos anos, com o surgimento da psicologia positiva e muito por influência dos contributos da neurociência, este estilo de educação democrático tem sido estudado, aprofundado e apelidado de Educação Positiva.
A parentalidade positiva caracteriza-se por um tipo de parentalidade que embora mais tolerante é também exigente em relação aos filhos, mas numa lógica de reciprocidade. Os filhos devem responder às exigências dos pais, mas os pais também aceitam a responsabilidade de responderem, quanto possível, aos pontos de vista e razoáveis exigências dos filhos. Encorajam-lhes a autonomia, ouvem-lhe as opiniões, mas não hesitam no caminho a seguir e não descuram o cumprimento de regras. A negociação e o compromisso são possíveis. Trabalha-se a empatia, ou seja, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro. Estimulam a “discussão” e partilham pontos de vista e as regras são na maioria das vezes discutidas em conjunto. Há uma preocupação muito grande com a forma de comunicar, promovendo-se a comunicação não violenta e empática.
Para educar de forma positiva e empática, precisamos perceber como funciona o outro, neste caso, como funciona a cabeça dos nossos filhos. Precisamos perceber os diferentes estágios de desenvolvimento, para acolher, reconhecer, compreender e direccionar/guiar o comportamento da criança.
De acordo com diversos autores como Daniel Siegel, ou Magda Dias, reveste-se de extrema importância, que os pais estejam ligados à criança, percebendo e reconhecendo as necessidades que estão por de trás de determinado comportamento.
Conhecer os diversos estágios de desenvolvimento da criança, permitirá aos pais reconhecer e apoiar a criança na organização dos seus sentimentos e emoções, não esquecendo que, a vinculação que se estabelece entre pais e filhos é o segredo da auto-estima.
Os primeiros estudos sobre a importância do vínculo, foram feitos por Harry Harlow, com o objectivo de compreender melhor os processos de aprendizagem na infância. Efectuou diversas experiencias interessantes com macacos, chegando à conclusão, de que aqueles que eram privados do contacto materno desenvolviam comportamentos psicológicos graves, como apatia, tristeza ou mesmo agressividade.
Estando inicialmente em desvantagem, no início da relação parental, (já que não carregou no ventre, não amamentou) o pai, consegue com carinho, amor e dedicação, alcançar uma vinculação tão importante, quanto a da mãe. Basta haver, presença, toque, cumplicidade e amor, principalmente nos primeiros anos de vida.
“Quando uma criança se sente segura e incondicionalmente querida, cresce a sentir-se uma pessoa importante e que merece sentir-se bem. Ajudar o seu filho a ter uma boa auto-estima é dar-lhes a possibilidade de uma vida feliz. Pense bem, o mundo está cheio de pessoas que têm tudo e que, no entanto, se sentem desgraçadas.” (Alvaro Bilbao, 2016)
Texto de Sofia Cid – Socióloga – Pós-graduada em Sociologia da Família; Educação e Parentalidade Positiva e Mediação Familiar.
Formações complementares nas áreas da Neuropsicologia infantil e Mindfulness para Crianças.
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