Relação conjugal ≠ Relação parental

“Quero amar-te sem absorver-te,
Apreciar-te sem julgar-te,
Unir-me a ti sem escravizar-te,
Convidar-te sem exigir,
Deixar-te sem que me sinta culpada,
Criticar-me sem ferir-te
e ajudar-te sem menosprezo.
Se puderes fazer o mesmo por mim,
Então ter-nos-emos conhecido verdadeiramente
e poderemos beneficiarmo-nos mutuamente.” Virginia Satir

 

A relação conjugal tem início quando dois adultos se unem com o propósito de iniciar uma vida em comum. É um momento que faz parte dos ciclos naturais (vitais) da família onde dois seres diferentes, se encontram, com vista a partilhar um conjunto de valores e experiências trazidos por cada um, da sua família de origem.

Está relacionado com a ideia de interdependência mútua e de partilha, em que os parceiros abrem mão de parte de sua individualidade em prol do sentimento de pertença a um novo sistema familiar. A relação conjugal.

Na sequência da relação conjugal, surgem os filhos e com estes uma nova relação no ciclo familiar.

A relação parental, envolve a capacidade de criação e socialização, dos filhos, exigindo-lhes que nutram e guiem uma nova relação familiar e, consequentemente se adaptem às novas rotinas do casal.

A cooparentalidade no seio da relação conjugal é um factor de extrema importância para o desenvolvimento emocional harmonioso de qualquer criança. A partilha de valores comuns na educação das crianças, cria um ambiente coerente e seguro, fundamental para o seu desenvolvimento.

Contudo, a forma como esta relação se cria, nem sempre é pacífica, necessitando de ajustes e reajustes, e aquilo que deveria ser a solidariedade cooparental, dá muitas vezes origem a conflitos, onde surge “o boicote cooparental”, que se manifesta através de atitudes que prejudicam o alcance das metas parentais do parceiro(a), assim como a manifestação de críticas ou a desvalorização em relação às suas decisões.

A cooparentalidade, deve englobar não só a divisão de tarefas e responsabilidades entre os parceiros, mas também a partilha de valores e crenças que permitam um entendimento e uma coerência no envolvimento de cada um com a criança e, principalmente nos assuntos pertinentes a ela, evidenciando uma cooperação entre os pais, onde estes se apoiam, valorizam e respeitam.

Numa situação de divórcio ou separação, esta relação cooparental não deve desaparecer. Finda a relação conjugal, mantém-se a parentalidade partilhada a coparentalidade, ou seja a relação parental.

As dificuldades surgem, quando os filhos são envolvidos nas teias do conflito e recorrentemente utilizados para regular as tensões existentes no subsistema conjugal. Nesses contextos, os filhos podem ser envolvidos de diferentes maneiras nos conflitos entre pais:

  • Os pais podem exigir constantemente que o filho tome o partido de um ou de outro, colocando a criança em uma situação paralisante em que cada comportamento é tomado por um dos pais como um ataque;
  • Podem, através da formação de coligações estáveis entre um dos pais e o filho, criar uma união (instrumentalizada) contra o outro progenitor;
  • Ou ainda, constituir desvios, em que os pais mantêm a sua relação numa “harmonia ilusória” ao se focarem exclusivamente nas dificuldades da criança.

Virgínia Satir, um dos principais expoentes da Terapia Familiar Experiencial, destacou a importância da autoestima e da confiança entre os cônjuges ao discutir os efeitos das “decepções conjugais” nos filhos. Segundo a autora, parceiros que apresentam uma autoestima reduzida e pouca confiança mútua tendem a esperar que o filho lhes venha a demonstrar o seu valor e a aliviar triangulações, ou seja, incorporam a filho no conflito como forma de aliviar a tensão e estabilizar a relação existente.

A ciência psicológica demonstra que existe uma clara vantagem de um exercício conjunto da parentalidade, que promova o vínculo afetivo com ambos os progenitores, permitindo o aumento da rede de suporte emocional e social da criança. Estudos revelam também que não é o divórcio em si, que causa traumas na criança, mas sim a vivência do conflito.

Se o divórcio for gerido de forma equilibrada e os vínculos parentais não forem quebrados é possível à criança passar pelos vários estágios de forma natural. Ou seja, é natural que inicialmente a criança viva a fase da negação; posteriormente a fase da raiva (porque é que eles me fizeram isto); a fase da culpa e negociação (se eu me portar bem e não fizer mais birras vocês voltam a ficar juntos?); a fase da depressão (pela dúvida de como vai ser dali para a frente. Será que vão continuar a gostar de mim?); a fase da aceitação (até é bom ter duas casas) e a fase da cura (a criança percebe que continua a ter uma família que a ama, só vivem em espaços separados).

Texto de Sofia Cid – Socióloga / coach – Pós-graduada em Sociologia da Família;  Educação e Parentalidade Positiva e  Mediação Familiar.
Formações complementares nas áreas da Neuropsicologia infantil e Mindfulness para Crianças.

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